Os doentes com lesão genital por HPV, assim como os parceiros de doentes HPV positivo, apresentam normalmente um stress psicológico superior às reais consequências médicas da lesão. O seguimento desses doentes deve basear-se na educação e no aconselhamento. Os testes de tipagem molecular HPV não são recomendados como teste de seguimento, ou para rastreio dos parceiros. Aconselha-se o desenvolvimento e a implantação de protocolos próprios, por parte dos centros ou unidades que acompanhem esses doentes.
Patients with genital HPV lesion, as well as partners, usually present higher psychological stress, than the actual medical consequences of the lesion. Follow-up of these patients should be based on education and counseling. HPV molecular tests are not recommended as a follow-up test, or for screening partners. Development and implementation of protocols, by the centers or units, that follow these patients, are recommended.
O doente com lesão genital benigna por HPV apresenta frequentemente um stress psicológico superior às reais consequências médicas da lesão. Esses doentes podem apresentar sinais de baixa autoestima, depressão, ansiedade sexual ou diminuição do desejo sexual e da satisfação sexual1–3. Na base dessas alterações existem o medo e a ansiedade, associados ao fato de o tratamento da lesão não curar a infecção subjacente e do risco de recorrências4. Pode existir disfunção sexual após tratamento da lesão, por dor durante a penetração, pelo uso aconselhável de preservativo (principalmente nos casais monogâmicos de longo termo) e por medo de infecção da parceira. Pode ainda estar presente alteração da relação, por desconforto entre parceiros, devido à suspeita de infidelidade1.
Material e métodosRevisão bibliográfica e elaboração multidisciplinar do documento de consenso na prevenção do HPV masculino dentro do grupo de trabalho. Após a estruturação do documento procedeu-se à apresentação pública no XVI Congresso Nacional da Sociedade Portuguesa de Andrologia, Medicina Sexual e Reprodução em 3 de junho de 2018 na cidade do Porto. Após reestruturação foi colocado o documento para discussão pública no site www.spandrologia.pt até à reunião exclusivamente dedicada ao assunto e a reunião de consensos com painel de peritos.
Seguimento do doente com HPVO seguimento dos doentes com lesão genital por HPV deve basear-se na educação e no aconselhamento, com discussão de potenciais alterações psicológicas e sexuais; sugestões práticas, para ultrapassar eventuais problemas físicos e emocionais; desmistificar aspectos relacionados com a transmissão e malignidade associadas; transmitir que o uso correto e consistente de preservativo ajuda a prevenir a transmissão5 e fazer o rastreio de infecções sexualmente transmitidas.
Relativamente aos doentes com parceiro infectado por HPV, não existe evidência científica que suporte a notificação ou referenciação para avaliação clínica dos parceiros. Por isso, a indicação, é para:
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Educar e aconselhar, por meio de uma discussão informada com os parceiros sobre o diagnóstico, num contexto neutro não estigmatizante6–8;
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Enfatizar a sua natureza comum, assintomática e transitória9–11;
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Referir a alta prevalência de infecção por HPV e o relativo baixo risco de neoplasia12;
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Colocar em perspetiva esses fatos, contra a importância ou a necessidade de seguimento para prevenção neoplásica12;
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Dar enfase ao fato de o uso correto e consistente de preservativo ajudar a prevenir a transmissão5,13,14;
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Proceder ao rastreio de infecções sexualmente transmitidas.
Os testes de tipagem molecular HPV são recomendados por algumas organizações profissionais, na triagem de células escamosas atípicas de significado indeterminado, encontradas durante o seguimento do cancro cervical em mulheres acima de 21 anos15. Esses testes podem transmitir informação útil, no tratamento apropriado de mulheres, e permitir intervalos superiores no seguimento do cancro cervical15. No entanto, apesar da sua utilidade no contexto do acompanhamento do cancro cervical, esses testes não têm utilidade, podem gerar enganos noutros contextos, como o seguimento de homens ou adolescentes. Pelo que não são recomendados como teste de seguimento ou para rastreio de parceiros. De referir ainda que o uso desses testes, aquando da decisão de vacinar, não é recomendado. Pois um resultado positivo não invalida que o doente não tenha sido infectado pelos outros subtipos presentes na vacina16.
Em termos de seguimento, é considerada boa prática que cada centro ou unidade que trate doentes com lesões benignas HPV desenvolva os próprios algoritmos de seguimento. Esses protocolos devem incluir visita médica para revisão, às 4 semanas, a fim de alterar o tratamento instituído, em caso de resposta inadequada, até se verificar a irradicação das lesões. Está demonstrado que a implantação desses protocolos permite melhorar os resultados17.
ConclusãoO seguimento dos doentes com lesão genital por HPV, assim como dos doentes com parceiro infectado por HPV, consiste essencialmente na educação e no aconselhamento. Os testes de tipagem molecular HPV não são recomendados como testes de seguimento ou para rastreio dos parceiros. Aconselha-se o desenvolvimento e a implantação de protocolos próprios, por parte dos centros ou unidades que acompanhem esses doentes.
FinanciamentoO trabalho não recebeu qualquer tipo de financiamento.