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Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial
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Inicio Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial Maturação esquelética numa população portuguesa – comparação entre matu...
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Vol. 55. Issue 2.
Pages 102-109 (April - June 2014)
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Vol. 55. Issue 2.
Pages 102-109 (April - June 2014)
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Maturação esquelética numa população portuguesa – comparação entre maturação da mão e punho e vértebras cervicais
Skeletal maturation in a Portuguese population – comparison between the hand‐wrist and cervical vertebral maturation
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Luísa Malóa,
Corresponding author
malo.luisa@gmail.com

Autor para correspondência.
, Sara Limaa, Vanessa Teixeiraa, Filomena Canovab, Sónia Alvesa
a Área de Medicina Dentária, Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal
b Instituto Politécnico de Coimbra, Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, Coimbra, Portugal
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Tabela 1. Distribuição de frequências dos sujeitos por idade e sexo
Tabela 2. Indicadores de maturidade esquelética da mão e punho de acordo com o método de Grave e Brown
Tabela 3. Estádios de maturação das vértebras cervicais de acordo com o método de Baccetti et al
Tabela 4. Indivíduos classificados de acordo com o método de Grave e Brown e os respetivos valores de rho de Spearman
Tabela 5. Indivíduos classificados de acordo com o método de Baccetti et al. e os respetivos valores de rho de Spearman
Tabela 6. Rho de Spearman para os indicadores de maturidade esquelética da mão e punho e estádios de maturação das vértebras cervicais nos diferentes grupos etários e em ambos os sexos
Tabela 7. Rho de Spearman para os indicadores de maturidade esquelética da mão e punho e estádios de maturação das vértebras cervicais por sexo e global
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Resumo
Objetivo

O objetivo deste estudo foi estabelecer a correlação entre idade cronológica, a maturação esquelética das vértebras cervicais e a maturação esquelética da mão e punho numa população portuguesa.

Métodos

Foram selecionadas e analisadas de forma aleatória 285 radiografias da mão e punho e telerradiografias de perfil de crianças portuguesas, entre os 7‐16 anos de idade. A maturação esquelética das vértebras cervicais foi avaliada através do método de Baccetti et al. e a maturação esquelética da mão e punho avaliada através do método de Grave e Brown. Os dados obtidos foram correlacionados com a idade cronológica através do coeficiente de correlação de postos de Spearman.

Resultados

A maturação esquelética das vértebras cervicais foi correlacionada positivamente com a maturação esquelética da mão e punho (rs masculino=0,806, rs feminino=0,803), havendo também uma forte correlação da idade cronológica quer com a maturação das vértebras cervicais (rs masculino=0,778, rs feminino=0,788) quer com a maturação da mão e punho (rs masculino=0,820, rs feminino=0,847).

Conclusões

Os resultados demonstraram que na população portuguesa é justificável a utilização da maturação esquelética determinada pelas vértebras cervicais na prática clínica ortodôntica. De igual modo, a forte correlação da idade cronológica quer com os indicadores de maturação esquelética da mão e punho quer com os estádios de maturação esquelética das vértebras cervicais sugere que, dentro de certos limites, a idade cronológica poderá ser utilizada para determinar o estado de maturação esquelética de um dado indivíduo.

Palavras‐chave:
Índice de maturação esquelética
Mão
Punho
Vértebra
Abstract
Objective

The objective of this study was to evaluate the correlation between chronological age, cervical vertebral maturation and hand‐wrist maturation in a Portuguese population.

Methods

285 hand‐wrist and lateral cephalometric radiographs of Portuguese subjects, aged between 7 to 16 years, were randomly selected and analyzed. The cervical vertebral skeletal maturation was assessed using the method developed by Baccetti and collaborators and the hand‐wrist skeletal maturation was assessed using the method developed by Grave and Brown. These two methods data and the chronological age were correlated using the Spearman rank‐order correlation coefficient.

Results

The cervical vertebral maturation was significantly correlated with the hand‐wrist maturation (male rs=0.806, female rs=0.803). Strong correlations were also found between the cervical vertebral maturation and chronological age (male rs=0.778; female rs=0.788) and between the hand‐wrist maturation and chronological age (male rs=0.820; female rs=0.847).

Conclusions

These results suggest that cervical vertebral maturation method and hand‐wrist skeletal maturation method have a strong statistical correlation in Portuguese subjects. Therefore is appropriate the use of the cervical vertebral maturation method in daily orthodontic practice when treating Portuguese patients. In the same way, the strong correlation between chronological age and both hand‐wrist skeletal maturation indicators and cervical vertebral maturation stages suggest that, within certain limits, chronological age might be used to determine the skeletal stage of a given Portuguese subject.

Keywords:
Skeletal maturation index
Hand
Wrist
Vertebrae
Full Text
Introdução

O momento ideal para a realização de tratamentos de ortopedia dento‐facial está relacionado com períodos de crescimento esquelético intenso que influenciam a correção das desarmonias esqueléticas que um paciente apresente1,2. Assim, o estádio de maturação esquelética de um indivíduo determina a seleção e execução da mecanoterapia3, necessitando o ortodontista apenas de saber se ele crescerá e qual a percentagem espectável de crescimento que terá durante o período de tratamento4.

O estádio de desenvolvimento de uma criança é usualmente determinado em relação a eventos detetáveis à medida que o crescimento progride5, mas devido a variações individuais não é possível determinar com acuidade a maturidade anatómica e fisiológica apenas através da idade4. O desenvolvimento dentário, a idade cronológica, os caracteres sexuais secundários6 ou o desenvolvimento esquelético são apenas alguns dos indicadores biológicos que têm sido utilizados na identificação dos estádios de crescimento1,5,7,8. Contudo, nem os indicadores de desenvolvimento dentário são fiáveis na previsão dos estádios de desenvolvimento esquelético, nem a idade cronológica é fiável na previsão do surto de crescimento pubertário1.

A determinação dos estádios de maturação esquelética através da análise radiográfica tem sido um método utilizado na previsão do período de crescimento pubertário e na estimação da taxa de crescimento e da quantidade de crescimento remanescente1,2, sendo a análise de radiografias da mão e punho considerada como um dos métodos mais padronizados em aplicação2,9–11. Esta apresenta como desvantagem o facto de cada paciente sujeito a tratamento ortodôntico, além de ter de realizar uma telerradiografia de perfil, ter também de efetuar uma radiografia da mão e punho adicional. Apresenta também limitações na sua interpretação: a sequência de ossificação e o período de maturação esquelética revelam polimorfismos e dismorfismos sexuais quem podem limitar a sua utilização na prática clínica e apesar dos eventos que ocorrem na mão e punho sinalizarem o máximo e o fim do surto de crescimento pubertário, eles não assinalam o seu início2.

A determinação da idade esquelética com recurso à análise da maturação das vértebras cervicais («cervical vertebral maturation» – CVM) tem progressivamente ganho popularidade devido ao facto das alterações morfológicas sofridas pelos corpos vertebrais serem observadas na telerradiografia de perfil12–22. Ela apresenta também limitações no que diz respeito aos polimorfismos e dismorfismos sexuais e não é sensível na deteção de eventos de maturação esquelética que ocorram fora do surto pubertário8, mas é considerada estatística e clinicamente tão fidedigna como a da mão e punho12.

A correlação entre a maturação esquelética determinada pelas vértebras cervicais e pela mão e punho tem sido amplamente estudada em diferentes populações1. Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo aferir a correlação entre idade cronológica e maturação das vértebras cervicais, a correlação entre idade cronológica e maturação da mão e punho e determinar se a maturação das vértebras cervicais se correlaciona com a da mão e punho numa população portuguesa.

Materiais e métodos

A amostra estudada consistiu em 285 indivíduos que recorreram à consulta de Ortodontia da Área de Medicina Dentária da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC). A idade dos sujeitos variou entre os 7‐16 anos, com uma idade média de 14,45 anos para as raparigas e 11,99 anos para os rapazes. A distribuição em idade cronológica e sexo está especificada na tabela 1.

Tabela 1.

Distribuição de frequências dos sujeitos por idade e sexo

  Sexo 
  Feminino  Masculino  Total 
Idade cronológica
[7‐9[  12  16 
[9‐10[  23  32 
[10‐11[  23  15  38 
[11‐12[  30  23  53 
[12‐13[  32  17  49 
[13‐14[  19  17  36 
[14‐15[  16  14  30 
[15‐16]  16  15  31 
Total  171  114  285 

Nota: crianças entre os 7,00‐8,99 anos foram consideradas como pertencendo ao grupo etário dos 7‐9 anos de idade.

Cada indivíduo do estudo teve que cumprir os seguintes critérios: ser de raça caucasiana, não apresentar qualquer anomalia de crescimento e não apresentar qualquer anomalia das vértebras ou dos ossos da mão e punho.

O material utilizado consistiu em radiografias da mão e punho esquerdo e telerradiografias de perfil de boa qualidade, tiradas no mesmo dia. A análise das radiografias foi realizada num negatoscópio em quarto escuro, de modo a assegurar um bom contraste das imagens ósseas.

Cada radiografia da mão e punho foi avaliada e classificada de acordo com os indicadores de maturidade esquelética («skeketal maturation indicators» – SMI) definidos por Grave e Brown (tabela 2)23. O pico do crescimento pubertal está relacionado com a mineralização do osso sesamóide (fase S) e com a ossificação do hamato (fase H‐2), a ocorrer no estádio 4. O pico do surto pubertário coincide com o capeamento da diáfise pela respetiva epífise a nível da falange mesial do terceiro dedo (fase MP3 cap), a nível falange proximal do primeiro dedo (fase PP1 cap) e a nível do rádio (fase R cap), a ocorrerem no estádio 5. A desaceleração do crescimento pubertário ocorre com a fusão da epífise com a respetiva diáfise a nível da falange distal do terceiro dedo (fase DP3 u), no estádio 624.

Tabela 2.

Indicadores de maturidade esquelética da mão e punho de acordo com o método de Grave e Brown

Estádios  Fases  Evento de ossificação 
Estádio 1  PP2=  Epífise da falange proximal do segundo dedo é tão larga quanto a correspondente diáfise 
Estádio 2  MP3=  Epífise da falange mesial do terceiro dedo é tão larga quanto a correspondente diáfise 
Estádio 3  H‐1  Gancho do hamato (fase 1) 
  Pisi  Aparição do pisiforme 
  R=  Epífise do rádio tão larga quanto a correspondente diáfise 
Estádio 4  S  Aparição do sesamoide ulnar 
  H‐2  Gancho do hamato (fase 2) 
Estádio 5  MP3cap  Epífise da falange mesial do terceiro dedo capeia a diáfise 
  PP1cap  Epífise da falange proximal do primeiro dedo capeia a diáfise 
  Rcap  Epífise do rádio capeia a diáfise 
Estádio 6  DP3u  União epifisária completa da falange distal do terceiro dedo 
Estádio 7  PP3u  União epifisária completa da falange proximal do terceiro dedo 
Estádio 8  MP3u  União epifisária completa da falange mesial do terceiro dedo 

A CVM foi determinada com recurso ao método desenvolvido por Baccetti et al.13,14,21, que depende das modificações anatómicas que sofrem as vértebras cervicais C2, C3 e C4. Estas foram avaliadas de acordo com 2 variáveis: a presença ou ausência de concavidade a nível do bordo inferior da C2, C3 e C4; e a anatomia que os corpos da C3 e C4 têm à medida que a idade progride (tabela 3). A deteção do estádio CS2 («cervical stage» – CS) é indicativo que o surto pubertário está próximo, iniciando‐se no estádio CS3, aproximadamente 1 ano após CS2, sendo alcançado o fim de crescimento no estádio CS6. O pico do crescimento mandibular segue a tendência do crescimento pubertário e ocorre entre os estádios CS3 e CS413.

Tabela 3.

Estádios de maturação das vértebras cervicais de acordo com o método de Baccetti et al

  Bordo inferior do corpo vertebral  Forma do corpo da C3 e C4  Pico do crescimento mandibular 
CS1  C2, C3, C4 achatado  C3, C4 trapezoides(o bordo superior é inclinado de posterior para anterior)  Ocorre em média 2 anos após este estádio 
       
CS2  C2 côncavo;C3, C4 achatados  C3, C4 trapezoides  Ocorre em média um ano após este estádio 
       
CS3  C2, C3 côncavos;C4 achatado  C3, C4 trapezoide ou retangular horizontal  Ocorre durante o ano deste estádio 
       
CS4  C2, C3, C4 côncavos  C3, C4 retangular horizontal  Ocorreu 1‐2 anos antes deste estádio 
       
CS5  C2, C3, C4 côncavos  C3 ou C4 quadrangulares. Se não for quadrangular, o corpo da outra vértebra é retangular horizontal  Terminou um ano antes deste estádio 
       
CS6  C2, C3, C4 côncavos  C3 ou C4 retangular verticalSe não for retangular vertical, o corpo da outra vértebra é quadrangular  Terminou pelo menos 2 anos antes deste estádio 

Todas as radiografias do estudo foram avaliadas por 2 examinadores (A e B), sendo o processo de recolha de informação o mais cego possível: quando classificava um SMI, o examinador desconhecia o correspondente estádio CVM («CVM stage» – CVMS) e vice‐versa.

Para avaliar a confiabilidade intra e interexaminador, 15 radiografias da mão e punho e 15 telerradiografias de perfil foram aleatoriamente selecionadas e classificadas independentemente 2 vezes por cada um dos examinadores, com um intervalo de tempo de uma semana.

A análise estatística foi realizada por um perito, com total desconhecimento da codificação utilizada na leitura das maturações esqueléticas, com recurso ao software SPSS (IBM SPSS Statistics for Windows, v. 21). Para determinação da reprodutibilidade intra e interexaminador na execução dos 2 métodos utilizou‐se o coeficiente Kappa25. Foram utilizados testes não paramétricos de Kruskal‐Wallis na comparação da idade cronológica nos diferentes grupos de indicadores de maturidade esquelética (ossos da mão e punho e vértebras cervicais) e U de Mann‐Whitney na comparação da idade cronológica por sexo, para cada indicador de maturidade esquelética. O coeficiente de correlação de postos de Spearman (rho ‐ rs) foi utilizado na determinação da correlação entre os SMI e a idade cronológica, da relação entre os CVMS e a idade cronológica e da correlação entre os SMI e os CVMS.

Resultados

A reprodutibilidade de todas as leituras foi quase perfeita, com valores fortemente concordantes. Nas leituras dos SMI, os resultados obtidos revelaram uma concordância interexaminador quase perfeita (k=0,918 para a primeira leitura e k=0,836 para a segunda leitura), bem como uma concordância intraexaminador quase perfeita (k=1 para o examinador A e k=0,918 para o examinador B). Nas leituras dos CVMS tanto a concordância interexaminador (k=0,913 para ambas as leituras) como a intraexaminador (k=1 para ambos os examinadores) foram quase perfeitas.

A estatística descritiva referente aos SMI está ilustrada na tabela 4. A idade cronológica apresentou diferenças significativas nos diferentes SMI, em ambos os sexos, confirmadas pelo teste não paramétrico de Kruskal‐Wallis, com valor p<0,001 (figs. 1 e 2). Por outro lado, o teste não paramétrico U de Mann‐Whitney confirmou diferenças estatisticamente significativas na idade cronológica entre os jovens do sexo feminino e do sexo masculino para os indicadores PP2=(p=0,001), Pisi (p=0,02), H‐2 (p<0,01), PP1cap (p=0,03), Rcap (p<0,001) e MP3μ (p<0,001). A maturação esquelética do sexo feminino ocorre mais cedo do que a do sexo masculino (fig. 3).

Tabela 4.

Indivíduos classificados de acordo com o método de Grave e Brown e os respetivos valores de rho de Spearman

  FemininoMasculinoTotal
  n  Média  DP  n  Média  DP  n  Média  DP 
PP220  8,45**  1,10  22  9,77**  1,07  42  9,14  1,26 
MP39,00  10,00  1,41  9,67  1,16 
H‐1        10,89  1,36  10,89  1,36 
Pisi  13  9,85*  1,21  18  11,06*  1,31  31  10,55  1,39 
R10,17  0,75  12,50  0,71  10,75  1,28 
9,50  1,00  12,50  1,29  11,00  1,93 
H‐2  14  10,36**  1,08  12,17**  1,17  20  10,90  1,37 
MP3cap  10,67  0,58  11,67  1,21  11,33  1,12 
PP1cap  11  10,55*  1,37  10  12,10*  1,45  21  11,29  1,59 
Rcap  38  11,63**  1,13  19  13,42**  1,07  57  12,23  1,39 
DP3u  12,11  1,27  15,00  1,00  12  12,83  1,75 
PP3u  13  12,69  1,25  15,00  0,00  16  13,13  1,46 
MP3u  12  13,25**  0,97  15,29**  0,76  19  14,00  1,33 
Ru  27  14,26  1,26  14,67  0,58  30  14,30  1,21 
Total  171  11,45  2,12  114  11,99  2,04  285  11,67  2,10 
Coeficiente de correlação (rs  0,847***0,820***0,752***

Notas: *p<0,05; **p<0,01. *** Correlação é significativa a nível de 0,01 (bilateral). Os casos de amostras anormalmente pequenas foram excluídos.

DP: desvio padrão.

Figura 1.

Box plot dos resultados do teste Kruskal‐Wallis para a idade cronológica nos SMI dos jovens do sexo feminino.

(0.09MB).
Figura 2.

Box plot dos resultados do teste Kruskal‐Wallis para a idade cronológica nos SMI dos jovens do sexo masculino.

(0.09MB).
Figura 3.

Representação gráfica das diferenças entre os sexos no que diz respeito à idade cronológica em níveis de maturação da mão e punho.

(0.08MB).

Os valores obtidos para o coeficiente de correlação de postos de Spearman indicam correlações fortes e positivas entre a idade cronológica e os SMI dos jovens da amostra global (rs=0,752), dos jovens do sexo feminino (rs=0,847) e dos jovens do sexo masculino (rs=0,820). Em todos os casos, os resultados foram estatisticamente significativos com p<0,001 (tabela 4).

A estatística descritiva referente aos CVMS está ilustrada na tabela 5. A idade cronológica apresentou diferenças significativas nos diferentes indicadores de maturação das vértebras cervicais, em ambos os sexos, confirmadas pelo teste não paramétrico de Kruskal‐Wallis, que apresentou uma significância p<0,001 (figs. 4 e 5). Por outro lado, o teste não paramétrico U de Mann‐Whitney confirmou diferenças estatisticamente significativas na idade cronológica entre os jovens do sexo feminino e do sexo masculino nos estádios CS1 (p=0,005), CS5 (p=0,005) e CS6 (p=0,026), sugerindo que a maturação das raparigas ocorre antes da dos rapazes (fig. 6).

Tabela 5.

Indivíduos classificados de acordo com o método de Baccetti et al. e os respetivos valores de rho de Spearman

    FemininoMasculinoTotal
    n  Média  DP  n  Média  DP  n  Média  DP 
  CS1  51  9,57**  1,38  28  10,54**  1,26  79  9,91  1,41 
  CS2  19  10,00  1,00  21  10,24  1,30  40  10,13  1,16 
CVMS  CS3  19  10,89  1,29  21  11,71  1,19  40  11,33  1,29 
  CS4  21  12,14  1,01  17  12,76  1,20  38  12,42  1,13 
  CS5  41  13,32**  1,49  18  14,50**  1,04  59  13,68  1,47 
  CS6  20  13,60*  1,39  14,78*  0,83  29  13,97  1,35 
  Total  171  11,45  2,12  114  11,99  2,04  285  11,67  2,10 
Coeficiente de Correlação (rs    0,788***0,778***0,768***

Notas: *p<0,05; **p<0,01. *** Correlação é significativa a nível de 0,01 (bilateral). Os casos de amostras anormalmente pequenas foram excluídos.

DP: desvio padrão.

Figura 4.

Box plot dos resultados do teste Kruskal‐Wallis para a idade cronológica nos CVMS dos jovens do sexo feminino.

(0.08MB).
Figura 5.

Box plot dos resultados do teste Kruskal‐Wallis para a idade cronológica nos CVMS dos jovens do sexo masculino.

(0.08MB).
Figura 6.

Representação gráfica das diferenças entre os sexos no que diz respeito à idade cronológica em níveis de maturação das vértebras cervicais.

(0.06MB).

Os valores obtidos para o coeficiente de correlação de postos de Spearman indicam correlações fortes e positivas entre a idade cronológica e os CVMS dos jovens da amostra global (rs=0,768), para os jovens do sexo feminino (rs=0,788) e para os jovens do sexo masculino (rs=0,778). Em todos os casos, os resultados foram estatisticamente significativos com p<0,001 (tabela 5).

Foi observada uma forte correlação positiva entre os SMI e os CVMS em vários grupos etários dos 2 sexos (rs=0,789, p<0,001), particularmente para os de 10‐11, 12‐13 e 13–14 anos de idade (tabela 6). Do mesmo modo, uma forte correlação positiva foi detetada entre os SMI e os CVMS dos jovens de ambos os sexos (tabela 7), sendo o coeficiente de Spearman 0,806 para as raparigas e 0,803 para os rapazes. Todos os resultados foram considerados estatisticamente significativos com p<0,001.

Tabela 6.

Rho de Spearman para os indicadores de maturidade esquelética da mão e punho e estádios de maturação das vértebras cervicais nos diferentes grupos etários e em ambos os sexos

Idade cronológica (a)  n  Coeficiente de correlação  p value 
[7‐9[  16  −0,124  0,647 
[9‐10[  32  0,031  0,865 
[10‐11[  38  0,485**  0,002 
[11‐12[  53  0,297*  0,031 
[12‐13[  49  0,742**  0,000 
[13‐14[  36  0,673**  0,000 
[14‐15[  30  0,446*  0,013 
[15‐16]  31  0,143  0,444 

Notas: * Correlação é significativa a nível de 0,05 (bilateral). ** Correlação é significativa a nível de 0,01 (bilateral). Crianças entre os 7,00‐8,99 anos foram consideradas como pertencendo ao grupo etário dos 7‐9 anos de idade.

Tabela 7.

Rho de Spearman para os indicadores de maturidade esquelética da mão e punho e estádios de maturação das vértebras cervicais por sexo e global

Sexo  n  Coeficiente de correlação  p value 
Feminino  171  0,803**  <0,001 
Masculino  114  0,806**  <0,001 
Total  285  0,789**  <0,001 

Notas: ** Correlação é significativa a nível de 0,01 (bilateral).

Discussão

Apesar de a puberdade apresentar um padrão similar em todos os indivíduos, existem variações individuais no tempo, duração e velocidade de crescimento. Deste modo, a determinação da maturação e a estimação do potencial de crescimento durante a adolescência são essenciais na formulação de planos de tratamento de ortopedia dento‐facial22.

Devido ao facto de ocorrerem variações significativas no crescimento de crianças da mesma faixa etária, a idade cronológica é considerada um indicador pouco fidedigno na determinação de estádios de desenvolvimento esquelético9. Se para alguns autores é possível encontrar fortes correlações entre idade cronológica e idade esquelética1, para outros essa correlação é baixa8. Nesta população portuguesa, o rho de Spearman revelou fortes correlações entre a idade cronológica, os SMI e os CVMS, quer para a totalidade da amostra quer para ambos os sexos, permitindo concluir que a idade, dentro de certos limites, poderá ser utilizada na determinação do estádio de maturação de um paciente.

Alguns autores referem uma baixa correlação entre a maturação da mão e punho e das vértebras cervicais, provavelmente devido aos diferentes métodos usados na avaliação da maturação esquelética através da mão e punho7. Neste estudo, a hipótese testada de que não há diferenças significativas entre ambos os métodos quando utilizados numa população portuguesa foi validada para ambos os sexos, demonstrando que os 14 SMI podem ser confiavelmente correlacionados com os 6 CVMS, dados concordantes com outros reportados anteriormente1,3,5,8. A correlação foi particularmente forte nos grupos etários dos 10‐11, 12‐13 e 13‐14 anos, idades associadas ao surto pubertário. Apesar da confiabilidade do método CVM ter sido estatisticamente provada, ele deve ser utilizado em associação com outros indicadores de crescimento como o crescimento corporal geral ou a menarca16.

Esta população portuguesa segue o padrão de crescimento secular, sendo comummente aceite que a puberdade normal se inicia entre os 8‐12 anos de idade nas raparigas e entre os 9‐14 anos de idade nos rapazes26. Neste estudo, tanto os dados da mão e punho (8,45 anos para o sexo feminino e 9,77 anos para o masculino na fase PP2=) como os das vértebras cervicais (10,89 anos para o sexo feminino e 11,71 anos para o sexo masculino no estádio CS3) demonstram que o início da puberdade, apenas baseada na análise esquelética, está dentro destes valores de referência. No entanto, os resultados obtidos para o sexo feminino não estão de acordo com os de Baccetti et al. que afirmam que a idade média para o início da puberdade para o sexo feminino é de 11 anos e 2 meses, permitindo concluir que as raparigas desta população portuguesa iniciam tendencialmente a sua maturação mais cedo do que as da população italiana.

O sexo é um fator que influencia o surto de crescimento pubertário, sendo a maturação esquelética feminina geralmente mais precoce que a masculina1,9. Este estudo revelou existirem diferenças estatisticamente significativas entre ambos os sexos, tanto para os SMI como para os CVMS, resultados concordantes com os de estudos anteriores1,7,9. Como demonstrado por ambos os métodos, as raparigas iniciam a puberdade e maturam mais cedo, enquanto os rapazes tendem a maturar mais tarde. Contudo, os SMI e os CVMS mostraram algumas diferenças: ambos os sexos iniciam a puberdade mais cedo de acordo com o método SMI e o sexo feminino tende a concluir a sua maturação mais cedo do que o masculino de acordo com o método CVM.

Os resultados deste estudo transversal demonstraram a validade da utilização das vértebras cervicais na avaliação da maturação esquelética de sujeitos portugueses, tornando o método CVM útil clinicamente na identificação do momento ideal para a realização de tratamentos de desarmonias dento‐esqueléticas. Contudo, é necessária a realização de um estudo longitudinal que permita determinar as exatas relações entre os CVMS e o crescimento das estruturas craniofaciais na população portuguesa.

Conclusões

A forte correlação entre a idade cronológica e a maturação determinada pelos métodos dos SMI e dos CVMS permite concluir que, com um grau de confiança semelhante ao de outros indicadores, mas dentro de certos parâmetros, a idade possa ser utilizada na avaliação dos estádios de maturação da população portuguesa.

A forte correlação entre ambos os métodos sugere que o método da CVM pode ser utilizado rotineiramente na prática clínica, no tratamento de pacientes portugueses.

Responsabilidades éticasProtecão de pessoas e animais

Os autores declaram que para esta investigacão não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.

Confidencialidade dos dados

Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca dapublicacão dos dados de pacientes.

Direito à privacidade e consentimento escrito

Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

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